Artigo: “Atividade Física Adaptada a favor da inclusão”


27/02/2018 - Atualizado em 09/03/2018 - 974 visualizações

A Atividade física adaptada pode ser uma ferramenta importante para a reabilitação física, psicológica e social das pessoas com deficiência. Como os profissionais de Educação Física podem auxiliar neste processo?

Confira a seguir o artigo de Vinícius Alves, instrutor de Atividades Físicas do Sesc em São Miguel do Oeste. Ele relata como a educação física teve um papel importante na reabilitação do aluno Marcos Alexandre Fritsch, que chegou a participar das provas de lançamento de Dardo e Disco nos 13ª Parajasc (Jogos Abertos Paradesportivos de Santa Catarina).

“Atividade Física Adaptada a favor da inclusão”

A atividade física adaptada nos dias de hoje é um tema em questão, assim como a reabilitação física, inclusão do portador de necessidade especial à sociedade e a acessibilidade. As atividades físicas adaptadas surgem como uma ferramenta importante não somente para promoção de saúde, mas também para mostrar a importância da atividade física na vida dessas pessoas durante as suas atividades diárias. Observa-se que a atividade física adaptada pode ser um importante meio para a reabilitação física, psicológica e social destas pessoas.

A Educação Física Adaptada (EFA) surge com o intuito de auxiliar no desenvolvimento de novas habilidades, trazendo aos PNE’s (Portadores de Necessidades Especiais) uma nova maneira de aquisição de aptidões motoras para suas funções diárias, modificando suas atuais realidades e proporcionando novos desafios. Tais habilidades motoras podem ser desenvolvidas em forma de potencialidades, testar limites, prevenir enfermidades secundárias a deficiência do PNE e promover a integração social do mesmo.

Quanto ao físico, pode-se ressaltar ganhos de agilidade no manejo da cadeira de rodas, de equilíbrio dinâmico ou estático, de força muscular, de coordenação, coordenação motora, dissociação de cinturas, de resistência física; enfim, o favorecimento de sua readaptação ou adaptação física global (Lianza, 1985; Rosadas, 1989 e Souza, 1994). Devemos respeitar as barreiras que são impostas pela estrutura do corpo ou pelos comprometimentos decorrentes das características que o PNE apresenta.

Cabe ao profissional de Educação Física avaliar e classificar quais estratégias seguirá para que a reabilitação do PNE se mantenha em constante crescimento, tornando-se satisfatória para a inclusão do mesmo nas atividades desenvolvidas e até em esportes adaptados como ginástica geral, futebol, atletismo, basquete em cadeira de rodas, dança, voleibol, tênis de mesa e quadra entre outros.

Porém se faz interessante uma estrutura por trás destas ferramentas para se chegar de fato ao resultado final, venho por meio deste texto lhes falar que hoje em dia o Sesc Santa Catarina, mais precisamente a Unidade de São Miguel do Oeste tem tal estrutura e profissionais preparados e dedicados com alunos que lá frequentam a Unidade. Me chamo Vinícius Alves e sou instrutor de atividades físicas da Unidade de São Miguel do Oeste e nesta minha jornada dentro do Sesc, tive a oportunidade e o prazer de conhecer um aluno portador de necessidade especial chamado Marcos Alexandre Fritsch que acabou virando um estimado amigo.

O Marcos no ano de 2017 passou a ser um atleta paralímpico, passou a usar ainda mais o Sesc e com muito foco e determinação durante os seus treino no espaço de TMF conseguiu por seus méritos trazer a sua cidade natal São Miguel do Oeste duas medalhas de prata no Parajasc, sua primeira competição deste então.

Aqui segue um pequeno relato do Marcos sobre as suas atividades e sobre a sua experiência no Parajasc.

Marcos Alexandre Fritsch

No final de novembro e começo de dezembro, tive a honra de participar do PARAJASC em sua 13ª edição na cidade de Criciúma SC. Foi uma experiência única e maravilhosa, onde pude conviver no alojamento com pessoas que possuíam deficiências auditivas, intelectuais e físicas. 

Durante seis dias convivi com pessoas e suas dificuldades, algumas maiores do que as minhas, eles eram felizes até mais do que muitas pessoas que não possuem nenhuma limitação no dia a dia. A minha maior experiência mesmo foi no dia da estreia das modalidades em que eu disputava.

O nervosismo, a ansiedade e o medo tomaram conta de mim e vieram a passar só depois do último lançamento do dardo. Meu objetivo neste Parajasc foi apenas ganhar experiência em competições, mais tive a sorte de conquistar duas medalhas de prata nas modalidades em que participava. Nessa semana de jogos percebi que algumas cidades investem muito em seus atletas deficientes, treinando-os muito o ano todo e sem contar com a estrutura toda montada na pista de atletismo. Só fiquei muito triste pois ninguém da população da cidade acompanhava as competições, o único incentivo que os atletas recebiam na pista vinha dos seus treinadores e alguns familiares que estavam presentes no local.

Porém essa história começou em maio de 2016 quando o SUS (Sistema Único de Saúde) encerrou as minhas sessões de fisioterapia, alegando falta de dinheiro, e com o passar dos dias sem treinamento, eu percebi que eu estava me sentido sem forças para empurrar a cadeira de rodas que utilizo para me locomover, surgiu a ideia de começar a frequentar uma academia com o objetivo de ganhar força nos braços. No começo não foi fácil se adaptar a rotina de treinos e ao olhar desconfiado das pessoas que frequentavam o local, pensei várias vezes em desistir, mas com o passar dos dias fui me acostumando com o treinamento e com olhar das pessoas e nos dias de hoje sou muito grato por estar na academia, foi ela quem me ajudou a proporcionar muitas conquistas na minha vida, entre elas posso citar as medalhas no PARAJASC, uma qualidade de vida melhor, posso dizer que a minha saúde melhorou muito, pois tenho bexiga e intestino neurogênicos e os exercícios da academia acabam ajudando no funcionamento dos mesmos e também a diminuir a intensidade da dor neuropática que é uma sequela do acidente.

Conquistei vários amigos dentro da academia, quebrando a barreira da inclusão social e a do preconceito, pois a sociedade na verdade não faz o seu papel da inclusão. Acredito que a pessoa com algum tipo de deficiência deve ir atrás de se incluir no mundo, convivendo e provando as pessoas que somos todos iguais. Se eu soubesse que a academia iria me propor tantos benefícios, com certeza teria começado a muito tempo atrás, logo depois da minha reabilitação no Hospital SARAH-Brasília-DF que ocorreu no final de 2013. Acredito que nessa vida tudo tem um tempo certo para acontecer, nos dias de hoje eu só tenho que a agradecer ao Sesc e ao professor Vinícius a me proporcionar dias melhores de vida.

Por Vinícius Alves, Instrutor de Atividades Físicas - Sesc em  São Miguel do Oeste.

Bibliografia:

  • Rosadas, S. C. (1986) Educação Física para deficientes. Rio de Janeiro Ateneu. 
  • Lianza, S. (1985) Medicina de reabilitação. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara Koogan.
  • Souza, P.A. (1994) O esporte na paraplégica e tetraplegia. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan S.A




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