Histórias que fazem Sesc: De 1966 a 1975


08/09/2017 - Atualizado em 13/09/2017 - 1114 visualizações


No chamado período do “milagre brasileiro” – época da expansão do comércio exterior, fundação de universidades e desenvolvimento das telecomunicações –, ter momentos para diversão com a família e amigos saiu da lista do supérfluo para o rol de primeiras necessidades do trabalhador. O Sesc amplia o compromisso de garantir alternativas aos períodos de folga do comerciário e família. Quer disponibilizar práticas esportivas em ginásios, quadras, piscinas e clubes campestres, ajudando o seu público a dar um salto em qualidade de vida.

Um dos grandes marcos do período foram as criações do Centro Campestre, de Blumenau, e do Centro de Veraneio da Praia de Cacupé, em Florianópolis. Era o pontapé inicial para um dos grandes projetos do Sesc – o Turismo Social –, que se consolidaria nos anos 1990. O incentivo ao lazer passa a integrar uma das grandes frentes de atuação da Entidade, que defendia que o acesso à diversidade natural e cultural faz com que as pessoas ampliem a visão de mundo e o entendimento sobre a sua própria história.

É importante destacar que, desde a sua instalação em Santa Catarina, o Sesc colocou-se na defesa da prática do turismo de lazer. Inicialmente, durante as temporadas de férias, na Capital, organizavam-se passeios com as famílias para balneários da Ilha, como Ingleses e Santinho. O turismo emissivo só começaria na década de 1980.

Turismo Social

O Centro Campestre, no Bairro Salto Norte, em Blumenau, foi inaugurado em 1967. Antes havia apenas um ginásio com alojamentos, que era pouco usado. A área é um pequeno paraíso verde a oito quilômetros do Centro da cidade, que foi sendo equipado com parque infantil, campo de futebol, pista de patinação, quadras, piscinas dois ginásios de esportes, salão de festas e alojamentos. 

Em 2007, passaria a ser denominado Hotel Sesc em Blumenau, e não parou de receber melhorias e ampliações. É um exemplo de obstinação da família Sesc, que não se intimidou com as frequentes cheias que alagam a cidade e inclusive se fortaleceu com os desafios. 

Em Florianópolis, o Centro de Veraneio do Cacupé, hoje Hotel Sesc Cacupé, aberto em 1969, já nasceu com uma infraestrutura de primeira linha para os padrões da época. Oferecia alojamentos para 80 pessoas e quadras iluminadas para basquete, vôlei e futebol de salão, playground, salão de festas, churrasqueiras, palco para teatro e estacionamento.

Tudo isso à disposição de quem quisesse desfrutar daquele complexo na então bucólica e distante Praia de Cacupé, no Distrito de Santo Antônio de Lisboa, a 17 quilômetros do Centro de Florianópolis. Até 1974, ele era subordinado administrativamente ao Centro de Atividades de Florianópolis. Depois, desvinculou-se e se transformou em uma Unidade Operacional. Colaboradores da época contam que eram comuns as churrascadas, nos finais de semana, em Cacupé. Aliás, a frequência era basicamente aos sábados e domingos, já que o acesso viário não se dava pela moderna rodovia que liga hoje o Centro da Capital às praias do Norte da Ilha e sim por ligação bastante precária.

Assim, o Sesc seguiu a década, disponibilizando restaurantes, bibliotecas fixas e, mais uma vez pioneiro, implantou o projeto de bibliotecas móveis. Ao mesmo tempo, preocupado com a qualificação de seus técnicos, deu início a um ousado plano de desenvolvimento, estruturando centros de treinamento e cursos e instituindo bolsas de estudo para seus funcionários.

Trabalho com Idosos

Nesse período, outro pioneirismo do Sesc começa a se destacar no Estado: o trabalho com idosos. Sabendo dos benefícios que os grupos de convivência proporcionam a eles e objetivando uma melhoria nas condições de vida e inclusão social desse segmento na sociedade, durante esses anos houve um incentivo do Sesc nesse sentido. Era uma forma de ajudar o idoso a enfrentar a inegável marginalização e ao mesmo tempo estabelecer vínculos de amizade, compartilhando preocupações, angústias, sonhos e desejos com aqueles que viviam uma problemática semelhante.

A proposta do Sesc, fundamentalmente educativa, contribuiu para mudar a imagem do idoso, estigmatizado por uma série de estereótipos em nossa sociedade. Também permitiu à sociedade em geral e ao poder público uma tomada de consciência da necessidade de proteção social voltada à pessoa idosa e um olhar mais atento à questão social da velhice, o que, consequentemente, colaborou para uma valorização e uma nova trajetória para o envelhecimento em nosso país.

Pode-se dizer que o Sesc contribuiu para a formação de uma consciência política nos idosos: boa parte enxergou a importância de lutar pelos seus direitos e isso, por si só, pode ser considerado uma grande vitória de cidadania.

Em paralelo, a década presenciou as mulheres entrando firme no mercado de trabalho e precisando conviver com o dilema da cobrança da onipresença materna versus a necessidade de expediente fora de casa. Elas encontraram no Sesc uma ótima alternativa, tendo à disposição cursos de artesanato, corte e costura e culinária, entre outros, que permitiam que desenvolvessem atividades dentro do próprio lar, ao lado dos filhos, garantindo ainda uma renda extra para a família. O projeto de expansão do Sesc, na época, levou muito em conta essa realidade.


*Este artigo foi adaptado do livro “Uma história feita de muitas”, publicado em 2016 como parte das comemorações dos 70 anos do Sesc em Santa Catarina. 
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