[Artigo] Formação continuada, tecnologia e saberes docentes: passado, presente e futuros


27/01/2022 - Atualizado em 28/01/2022 - 629 visualizações

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Formação continuada, tecnologia e saberes docentes: passado, presente e futuros

Por Ana Luísa Moreira Silva
ana.13961@sesc-sc.com.br
Sesc Santa Catarina – Departamento Regional

Nos próximos anos a oferta de cursos à distância para a formação e qualificação profissional tendem a crescer. Segundo Carlos Fernando Araújo Júnior, Diretor de Relações Nacionais na ABED – Associação Brasileira de Educação a Distância, em entrevista durante o período de isolamento social exigido pela pandemia de SARS-CoV-2, o número de pessoas que buscaram cursos à distância aumentou 30%. Em levantamento do Censo Escolar, disponibilizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, INEP, 99,3% das escolas brasileiras suspendeu atividades presenciais em virtude da pandemia no ano de 2020 adequando-se a outras formas de ensino. Para Camacho (2019) o maior desafio dos educadores da atualidade consiste na efetivação de uma escola onde educandos com diferentes níveis e condições de aprendizagem estejam juntos frente à mesma situação de ensino. (CAMACHO, 2019, p. 4).

O presente estudo assenta-se em pesquisa sistemática da bibliografia pertinente as áreas de Educação à Distância, Formação Continuada e Tecnologias na Educação. A pesquisa tem por referencial teórico as contribuições dos estudos de Maurice Tardiff a respeito dos saberes profissionais de docentes e repositório eletrônico mantido pela Associação Nova Escola e Ministério da Educação – MEC.

A Educação à distância ou e-learning, popularmente conhecida pela sigla EAD, é uma forma de ensino-aprendizagem que tem como principal característica a separação espacial entre o professor e o aluno onde a efetivação do aprendizado se dá por meio de tecnologia. A EAD não é recente no Brasil. Nas décadas de 1940 e 1950 através do Instituto Monitor e posteriormente pelo Instituto Universal Brasileiro cursos de temáticas profissionalizantes e formativas eram lançados com o incentivo de instituições como o Sesc e Senac, pioneiras no atendimento para a inclusão social e qualificação para o mercado de trabalho especialmente para jovens e adultos em todo Brasil.

Cabe ressaltar que apesar de popularizada há acentuada ausência de familiaridade a cerca dos conceitos e limites de atuação da EAD, sendo em muitas ocasiões, utilizada como sinônimo de Ensino Remoto Emergencial. O cenário proporcionado pela pandemia de SARS-CoV-2 fez com que os debates e inquietações que já faziam parte das pautas em eventos a respeito da Educação brasileira ganhassem destaque e nova roupagem. A inserção abrupta das Tecnologias de Informação e Comunicação TIC’s nas práticas pedagógicas sem treinamento prévio, disponibilidade de equipamentos e capacitação de educadores pela modalidade Ensino Remoto especialmente na Educação Básica, fez com que seus atores e famílias ressignificassem a compreensão do espaço escolar pela continuidade dos processos formativos.

Diferente da EAD, o Ensino Remoto é uma forma de ensinar instituída em caráter emergencial e excepcional pela Portaria nº 343 de 17 de março de 2020 que suspende as atividades escolares presenciais enquanto durar a pandemia priorizando a transmissão síncrona das aulas e atividades através de plataformas de videoconferência e outras ferramentas multimídia sendo capaz de reproduzir parcialmente a rotina do ambiente escolar em suas especificidades a fim de amenizar os efeitos da suspensão temporária.

É notável que as tecnologias digitais assim como o espaço escolar estão em constante transformação. Para Kenski (2007) é impossível educar sem a mediação tecnológica. Os chamados nativos digitais, descritos pela primeira vez por Marc Prensky em 2001, fazem parte de relevante quantitativo de educandos presente hoje nas salas de aula e que interagem em algum nível com a tecnologia presente em celulares e computadores. É importante destacar o alarmante índice de desigualdade no acesso à internet e a equipamentos tecnológicos no Brasil. Em 2017 o IBGE apontou que apesar do alto quantitativo de dispositivos digitais por habitante, cerca de 16% da população ainda não tem acesso a telefones celular e 25,1% não tem acesso à internet. Segundo a pesquisa as motivações envolvem o valor aquisitivo e o analfabetismo digital. (IBGE, 2017). Por isto, faz-se necessário esforço para se reafirmar a escola como um espaço de vivências significativas, múltiplos saberes e experiências que proporcionem melhores condições de vida, pleno exercício da cidadania para educandos, suas famílias e comunidade. Pensar a aprendizagem bem como seu processo de construção perpassa a valorização e fomento a formação inicial e continuada de educadores onde se reconheça os múltiplos saberes profissionais e a docência para além do “ofício moral” como propõe Tardiff.

Na obra Saberes Docentes e Formação Profissional (2014) Tardiff elenca os elementos que corroboram para a compreensão sobre a relação entre a formação profissional e o exercício pleno da docência apresentando a natureza dos saberes docentes como plurais e intrinsecamente ligados a prática de ensinar e aprender, seja sozinho, em seu percurso formativo tradicional ou a partir do contato com outros docentes e colegas de profissão ao longo da carreira.

O saber docente está centrado em três campos; o pedagógico que acontece durante a formação inicial, o saber disciplinas, delimitado pelos campos de conhecimento e por último a experiência, que é resultado do fazer e das vivências coletivas.

A Formação Continuada sempre representou ambiente fértil de estudos e pesquisas no que diz respeito especificamente a educação básica. Ela pode ser definida como um processo constante e permanente de aperfeiçoamento dos saberes e das práticas educativas que não se esgota, porque há nele, movimento, questionamento e compromisso com novos olhares e perspectivas político-pedagógicas.

Em sua história, durante a década de 1990, sob fomento do Ministério da Educação, a Formação Continuada teve a missão de mobilizar políticas voltadas principalmente para a alfabetização em cooperação com sistemas de ensino consolidados. Para Selene Coletti, colunista da revista Nova Escola, veículo educacional em circulação há mais de 30 anos, a formação continuada tem o papel de apontar novos caminhos e, neste sentido, podemos afirmar que traduz o anseio por novas maneiras de dar sentido a prática educativa e novos valores que sejam capazes de possibilitar a superação dos desafios de acesso, alfabetização digital e participação das famílias e comunidade no processo de construção de saberes.

A habilidade para utilizar tecnologias digitais na prática pedagógica deve presumir que a formação inicial e continuada dos docentes oportunize vivências e diálogos com a utilização das ferramentas digitais e que incentivem os educandos em seu papel ativo e protagonista para aprender e ensinar. Freitas (2005) em sua pesquisa sobre letramento digital na formação inicial e continuada de docentes em Juiz de Fora, apontou-se que, apesar do acesso e uso cotidiano das tecnologias em sua realidade pessoal, os educadores da rede municipal de ensino se mostraram inseguros para o uso das tecnologias no contexto da sala de aula.

Vê-se que, assim como as artes e a cultura, a tecnologia não pode ficar à margem do cotidiano escolar e das políticas públicas voltadas a formação inicial e continuada de docentes. Neste percurso, deve haver esforço para que também se reconheça e privilegie programas e projetos que estejam capacitados a atender as necessidades dos educandos em suas subjetividades. Galerani (2020) compreende que o aluno protagonista é aquele que reconhece o potencial da sua atitude e se apropria de informações que o possibilite desenvolver habilidades e competências que lhe permitam construir o aprendizado ao longo da vida. Por outro lado, este educando demanda que o educador esteja aberto e preparado para novas práticas onde farão, juntos, a construção dos saberes significativos e emancipação de si e do coletivo.

A Escola é uma importante criação da própria sociedade e que tem o potencial de transformar realidades, mobilizar emoções e a prática para a ação. Ainda é cedo para avaliar e compreender os impactos relacionados a pandemia na Educação Brasileira, especialmente na Educação Básica, setor que segundo o último Censo realizado pelo Inep/MEC em 2020, atende aproximadamente 47 milhões de educandos em todo território nacional. O cenário que antecede a pandemia, relacionado ao esvaziamento de políticas públicas para a Educação Básica reforça a necessidade e importância da criação programas e iniciativas para a Formação Inicial Continuada que qualifique docentes e promova a qualidade do ensino e o bem-estar profissional como um projeto significativo, democrático e que recuse os fatalismos e a exclusão educacional.

Palavras-chave:
educação à distância; formação continuada; tecnologia.

Referências:

BRASIL. IBGE. PNAD – Acesso à Internet e à televisão e posse de telefone móvel celular para uso pessoal 2017. Brasília: IBGE, 2018.

BIMBATI, Ana Paula. A formação continuada tem o papel de mostrar novos caminhos. Revista Nova Escola, 23 de fev. 2021. São Paulo. Disponível em: . Acesso em 21 jul. 2021.

CAMACHO, Alessandra Conceição Leite Funchal et al. Alunos em vulnerabilidade social em disciplinas de educação à distância em tempos de COVID-19. Disponível em: . Acesso em: 21 jul. 2020.

FREITAS, M. T. M. et al. O Desafio de ser Professor de Matemática Hoje no Brasil. In:

FIORENTINI, D.; NARACATO, A. M. (Orgs.). Cultura, Formação e Desenvolvimento Profissional de Professores que Ensinam Matemática. Campinas: Editora Gráfica FE/UNICAMP, 2005.

MAGALHÃES, Gladys. Procura por EAD cresce 30% durante a pandemia. Jornal Gazeta de São Paulo, 12 de mar. 2021. São Paulo. Disponível em: . Acesso em 21 jul. 2021.

TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014./p>



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