Dicas de Segurança Alimentar: o que a pandemia do Coronavírus tem a nos ensinar


19/03/2020 - Atualizado em 22/11/2021 - 433 visualizações

E se temos ensinamentos disponíveis com esta pandemia, podemos nomear a empatia, solidariedade, consciência e responsabilidade coletiva. Para refletir mais sobre o assunto leia o artigo da nutricionista do Mesa Brasil Sesc Santa Catarina, Letícia Nunhofer Zago, que trata sobre a limitação de acesso e a possibilidade de não ter determinados alimentos em quantidade suficiente.

[Artigo] Dicas de Segurança Alimentar: o que a pandemia do Coronavírus tem a nos ensinar

A alimentação adequada e saudável é um direito humano básico, que envolve a garantia de acesso regular e permanente a alimentos socialmente justos, ambiental e economicamente sustentáveis, de qualidade e em quantidade suficiente, considerando os hábitos culturais e o não comprometimento de outras necessidades essenciais. Considerando a complexidade e os desafios que envolvem a configuração dos sistemas alimentares atuais, o acesso a informações confiáveis sobre os fatores determinantes de uma alimentação adequada e saudável contribui para que pessoas, famílias e comunidades ampliem a autonomia para fazer escolhas alimentares capazes de influenciar positivamente a saúde individual e coletiva.

Em um momento em que praticamente o mundo inteiro vivencia a realidade do isolamento social – única alternativa considerada eficaz, até o momento para combater a pandemia causada pelo Coronavírus (Covid-19) – percebemos um comportamento que se repete conforme as medidas vão sendo decretadas. Uma das primeiras preocupações da maioria das pessoas, instintivamente, é com a possibilidade de limitação de acesso aos alimentos, fato que pode ser constatado pelo grande movimento e esvaziamento rápido das prateleiras dos supermercados. Ainda que sejamos capazes de produzir alimentos para todos, e que as medidas relacionadas ao isolamento social sejam temporárias, a possibilidade de não ter disponível determinado alimento na quantidade, que se considera adequada para a família causa desconforto em muitas pessoas.

Essa limitação de acesso e a possibilidade de não ter determinados alimentos em quantidade suficiente para a família pode ser definida como insegurança alimentar é a realidade diária de milhares de pessoas em todo o mundo e está relacionada a um contexto de vulnerabilidade social mais amplo, que envolve a dificuldade de acesso à cultura, educação, saneamento básico, habitação, trabalho digno, entre tantos outros, e que certamente será agravada durante e após esta pandemia. Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) apontam que cerca de 820 milhões de pessoas passam fome no mundo, ou seja, 820 milhões de pessoas terminam o dia sem ter tido acesso adequado aos alimentos.

Por outro lado, um relatório divulgado em 2018, pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e Fundação Getúlio Vargas (FGV) revelou que cada família brasileira desperdiça em média 128 Kg de comida por ano. Além de estabelecer uma métrica dos valores absolutos do desperdício alimentar domiciliar no Brasil, a pesquisa também evidenciou a correlação negativa do desperdício, de maneira estatisticamente significativa, com duas variáveis atitudinais da população: consciência socioambiental e percepção do impacto no orçamento familiar.

Respondentes com maior consciência ambiental e maior percepção do impacto do desperdício no orçamento familiar, apresentaram menor propensão a desperdiçar alimentos. “As evidências empíricas apontam para a força da cultura nos hábitos de desperdiçar alimentos dos brasileiros. A intenção, a partir dos achados deste estudo, é dar continuidade às pesquisas com novas abordagens sobre os fatores comportamentais que levam ao desperdício de alimentos”, segundo Carlos Eduardo Lourenço, pesquisador da FGV-EAESP.

Diante disso, e considerando que a insegurança alimentar e o desperdício de alimentos são questões complexas, interligadas a outras questões sociais e agravadas por situações de calamidade como a que estamos passando, pontuamos algumas atitudes práticas que estão facilmente ao alcance da maioria das pessoas para uma alimentação adequada, saudável, justa e sustentável durante e após uma pandemia:

  • Veja o que tem em casa antes de ir ao supermercado, procure utilizar primeiro os alimentos mais perecíveis;
  • Na feira ou supermercado, compre somente o necessário para alguns dias;
  • Procure utilizar integralmente os alimentos, fazendo chips, chás ou sucos com cascas de frutas, torrando a sementes, fazendo doces ou geleias com aqueles que estiverem passando do ponto. As frutas podem ser congeladas em pequenas porções para sucos ou vitaminas;
  • Os vegetais podem ser congelados utilizando a técnica do branqueamento* ou em sopas;
  • Invista e aproveite hortas caseiras ou comunitárias (tomando as devidas medidas de evitar aglomerações de pessoas). Você pode doar ou congelar caso tenha produção superior ao que sua família pode consumir;
  • Experimente alternativas aos alimentos que você não conseguir encontrar, substituam nas receitas as farinhas, as gorduras, os recheios. Saia do habitual;
  • Consuma alimentos típicos da sua região, eles poderão ser encontrados com mais facilidade;
  • Compre de pequenos produtores e comércios locais, evitando maiores deslocamentos e incentivando a economia local;
  • Varie e adapte seus hábitos alimentares, além de ser saudável, contribui para que você respeite o isolamento social;
  • Lembre-se sempre de higienizar todas as embalagens e alimentos com água e sabão ou álcool 70% antes de guardá-los, pois eles também podem trazer o Coronavírus para dentro de casa; e
  • Lembre-se também de cozinhar bem os alimentos (acima de 70 graus), higienizar produtos que serão consumidos crus, lavando-os em água corrente, deixando de molho por 15 minutos em solução clorada e enxaguando (solução clorada: 1 colher de sopa de água sanitária sem aroma para 1 litro de água. No rótulo do produto deve estar escrito que pode ser usado para desinfetar alimentos).

*Conheça a seguir a técnica de branqueamento de frutas e hortaliças:

A técnica consiste em lavar bem as frutas e hortaliças, cortar em pedaços pequenos e não muito grossos. Em seguida mergulhar o vegetal em uma panela com água fervente. Esperar que a água volte a ferver (deixar ferver por 2 a 3 minutos, dependendo do alimento), retirar da água fervente e proceder imediatamente o resfriamento em uma vasilha com água gelada e gelo, por 2 minutos, ou até estar totalmente gelado. Logo após deve-se retirar o alimento do gelo, escorrer a água e colocar em pequenas quantidades em saquinhos apropriados culinários, removendo todo excesso de ar. Importante adicionar uma etiqueta indicando a data dessa etapa antes de congelar.

Letícia Nunhofer Zago
nutricionista do Mesa Brasil Sesc Santa Catarina




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